quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Reflexão sobre política

 Existem várias máximas na política, cada qual, mais esdrúxula do que a outra, porém, infelizmente, verdadeiras. Analisemos algumas pérolas. Em política, feio é perder. Esta afirmativa, repetida por todos os quadrantes do país, que dizer que, para ganhar, não interessa os meios, interessa a vitória. Vale trapacear, comprar votos, só não vale perder a eleição.
     Uma outra que me deixa muito triste: em política não se tem amigos, mas companheiros. Quer dizer que as pessoas estão juntas, apenas por um pacto temporário, amanhã, cada qual pode estar em situações totalmente adversas. Eu gosto é de amigos, de me entregar, confidenciar, dar o ombro para o outro chorar. Sofrer e sorrir juntos. Confiar.
     Comecei na militância estudantil. Era tempo bom, esquerda aguerrida, onde pensávamos em transformar o mundo. O país, não, o mundo, tamanho era nosso sonho. Depois me enveredei pela política sindical. Nesta época, chorei a morte de muitos companheiros, vítimas da violência dos que chamávamos de reacionários. Não tive o mesmo destino, fui poupado. Quando a União Soviética foi destruída, caiu o muro de Berlim, fiquei estarrecido. Embora não fossem nossos modelos, eram símbolos. Doía-me ver estátuas de Lênin serem arrastadas pelo povo, como se ele tivesse sido um tirano. Senti-me como um religioso, que passasse a vida inteira pregando e vivendo segundo os evangelhos, depois de morto, percebesse que o céu não existia. Ele teria um sentimento de tempo perdido.
     Então fui para a política classista, ocupando a presidência da Subseção da OAB de Inhumas por três mandatos. Certo dia, refletindo, pensei, mudar o mundo não vamos, mas podemos fazer uma política diferenciada, com ética, o que já não é pouco. Com este pensamento, contribui para a eleição de Lula para presidente.
     Ainda no início do primeiro mandato, conversando com um empresário da área da construção, ele me disse que na ralação das empreiteiras com o poder público, o que define a obra é a corrupção, e arrematou: sempre foi assim, e é assim no atual governo. Pensei em brigar com ele, porque me senti ofendido, mas não o fiz. Ainda bem que não briguei.
     Eu pensava que, com a eleição do Lula, corrupção era coisa do passado, pelo menos naqueles níveis. Não sou ingênuo para acreditar que a corrupção foi inventada agora, como querem fazer crer os adversários do presidente. É antiga e está incrustada nos três poderes da República. Não é maior ou menor, está do mesmo tamanho. O que mudou foram as apurações, que hoje são mais eficientes. A Polícia Federal está mais livre e a imprensa implacável e o povo mais vigilante. Daí, manter-se a esperança de dias melhores.
     A vida é muito efêmera e precisamos vivê-la em constante busca da felicidade. O dinheiro existe para isto, para proporcionar o prazer. Não pode ser ele, no entanto, a felicidade em si. Uma vida com qualidade, exige dinheiro, mas dentro do necessário, o que passar disto, é desperdício. É ganância. É preocupação vã. O que era para gerar conforto, proporciona preocupação.
     Outro dia alguém me disse, não sei se por empáfia e esnobismo, que ganha muito dinheiro. Que está preste a receber uma bolada de uns dois milhões de reais. Para que servirá o dinheiro? Perguntei. Respondeu que em breve conseguirá dobrá-lo, triplicá-lo. Logo será uma fortuna. Vejam a lógica, o dinheiro não é para proporcionar uma aposentadoria confortável, um passeio pelo mundo, buscar novos conhecimentos. É o dinheiro pelo dinheiro. Quanta pobreza!
     Na política penso ser da mesma forma. A política, dentre todas as vocações, é a mais nobre. A política, dentre todas as profissões, é a mais vil. A tese é de Rubem Alves, que continua:
     Vocação é diferente da profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.
      O político precisa sentir prazer em servir à comunidade e não prazer no dinheiro que pode ganhar com a política. Quem escreve, tem prazer em escrever; quem dança, canta é a mesma coisa, se bem que estas atividades podem gerar dinheiro. No entanto, quem as pratica, não tem por fim o dinheiro, mas o gozo.
     A política não pode ser uma profissão, mas uma arte de servir. Uma servidão que gere prazer em quem a pratica.

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