Bem ao estilo da cracolândia de São Paulo, aqui perto, cerca de 237 km ao sul da capital, na fronteira com a Bolívia, a Rua Joaquim de Lima é o maior ponto de distribuição de drogas do município de Brasileia. Batizada por traficantes como “Rua da Fumaça”, a região está apenas 200 metros da casa da prefeita Leila Galvão, a maior autoridade do município. Fomos ao local, na companhia do professor de Gestão Ambiental, Emerson Leão. Ele contou ao ac24horas, que perdeu a maior parte dos amigos de infância para as drogas.
- Estudei fora e quando voltei à Brasileia encontrei a maior parte de meus amigos de infância nas drogas. Quem não está atuando nesse mercado negro é porque está preso ou já foi executado – acrescentou.
Na rápida passagem que fizemos durante o dia pela Rua da Fumaça, dois pontos de distribuição foram identificados. Em um deles, nossa reportagem flagrou a distribuição à luz do dia de oxi, a droga do momento. O ponto está bem ao meio da rua totalmente esburacada, rodeada por muito mato. À noite, segundo o informante que aceitou conversar com nossa reportagem, “só entra no local quem tem ‘negócio’”.
Uma pesquisa patrocinada pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA, a ONG Reard [Rede Acreana de Redução de Danos] foi quem apontou para o mundo, “a nova descoberta”. A mesma pesquisa aponta dados que comprovam o uso crescente do “oxi” a partir de Brasileia e Epitaciolândia para Rio Branco e o resto do país. A droga passou a ostentar o título de mais potente e mais perigosa do mundo. O Acre passou a figurar nas capas de grandes noticiários nacionais e internacionais.
- Você imagina os efeitos de uma “potência” como essa em uma cidade que não tem geração de empregos, como Brasileia? – questiona o professor.
Contrariando o que acontecia no passado, quando Cobija dependia do comércio brasileiro, Brasileia hoje, embora abrigue indústrias, mesmo como área de livre comércio, registra forte dependência comercial do vizinho município boliviano. Na capital do departamento de Pando e da província de Nicolás Suárez, centenas de brasileiros cursam em faculdades particulares, atraídos, principalmente, pelas facilidades financeiras de um curso de medicina, em terras estrangeiras. Como resultado deste comércio que vive também da forte venda de produtos importados, o intercâmbio com drogas passa de forma “legal” pelas fronteiras.
No Departamento da Policia Federal instalado no município de Epitaciolândia, ninguém estava autorizado a falar sobre o assunto. A Polícia Federal no Acre apreendeu em 2010 cerca de 300 quilos de base livre de cocaína, matéria-prima para a fabricação do “oxi”.
Com IDH 0,669, os mais de 21.438 habitantes da cidade ainda esperam pelo tão sonhado desenvolvimento prometido com a construção da estrada do Pacífico. Por enquanto, o corredor internacional serviu apenas para os empresários do tráfico.
O contraste de desenvolvimento econômico está em toda parte. Ao longo da BR, famílias indígenas para não passarem fome se intoxicam com outra droga: o lixo depositado a céu aberto. Nossa equipe registrou a cena de indígenas juntando alimentos estragados no lixão administrado pela prefeita Leila Galvão [PT]. Mais a frente, uma placa que anunciava a compra de castanha pelo menor preço, depositada em meio de urubus, registra melhor o fracassado “projeto da castanha” na região de Brasileia e Xapuri.
- Sem opção, o jovem procura o mundo das drogas, da prostituição. Eles aproveitam as facilidades de nossas fronteiras abertas e quase sem controle nenhum – concluiu o professor.
Jairo Carioca – da redação de ac24horas js.carioca@hotmail.comRio Branco - Acre
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